quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Água que nasce poluída, morre poluindo


Famílias frederiquenses convivem diariamente com esgoto a céu aberto. Os pontos mais afetados são os bairros Ipiranga e Jardim Primavera

Fedor, poluição e risco de doenças. Em meio a isso, convivem as dezenas de famílias que moram nas proximidades da Pedreira, Viaduto e outros locais em Frederico Westphalen. O esgoto proveniente de praticamente toda a cidade acaba por cair entre as casas. Ao lado, crianças brincam, sendo alvo fácil dos malefícios que acompanham o canal. A mesma água que vira esgoto e depois desemboca no rio Chiquinha é proveniente da nascente poluída por excesso de nitrogênio do lajeado Pardo, distrito de Osvaldo Cruz, publicada na especial ‘Lastimável. A nascente pede socorro’ na semana passada.
A reportagem do Jornal Frederiquense, acompanhou o trajeto da água que abastece o município, desde a nascente até o seu destino final, no rio Chiquinha. Foram observados os procedimentos que o Centro de Educação Superior Norte – RS (Cesnors) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), realiza na nascente e suas margens e, as avaliações preliminares no laboratório, sendo que foram contatados níveis de nitrogênio a cima dos permitidos pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).
Ainda, foi acompanhado o processo de purificação pela Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), desde a chegada da água, provinda do Pardo, até as sua distribuição à população. Duas residências foram analisadas pelo LAPAQ/Cesnors em fevereiro, constatando que há excesso de nitrogênio total (nitrato, nitrito e amônia), que vem da nascente e não é eliminado. Por consequência as substâncias acabam por ser consumidas pela população ao beber a água. Apesar de não estar confirmado oficialmente, pesquisas apontam que o nitrogênio misturado à água, pode ser nocivo a vida humana e causar câncer gástrico.
Em casa
Em média, chega a Corsan de Frederico Westphalen 110 litros de água por segundo, isso representa 7 mil litros cúbicos de água tratada diariamente, que fica contida nos tanques - podendo armazenar até 1 milhão e 800 mil metros cúbicos em quatro cisternas, que abastecem as residências de toda a cidade através de um sistema gravitacional.
Apesar do processo de tratamento não eliminar os problemas provenientes da má conservação da nascente do Pardo, devido ao deposito ilegal de lixo, desmatamento e outros, todas as outras impurezas são eliminadas pela Corsan, através do processo de tratamento que inicia com a aplicação de sulfato de alumínio para a separação dos dejetos, emprego de cloro e por fim, flúor.
Desperdício. Poucos meses atrás, a região enfrentou uma forte estiagem. Houve racionamento na zona urbana e animais morreram no interior devido à falta de chuva. As residências mais antigas acabam por agravar o problema, já que em algumas, há má conservação da tubulação, acarretando em vazamentos.
Esgoto doméstico
A água usada nas atividades domésticas se transforma no resíduo líquido conhecido como esgoto, que pode causar sérios problemas tanto ao meio ambiente como à saúde das pessoas. O esgoto doméstico pode ser tratado com relativa facilidade antes de ser lançado no ambiente. Infelizmente, tratamento de esgoto é uma baixa prioridade para o Poder Público e para a população em geral. Em Frederico Westphalen, há apenas três sistemas de tratamento técnico subterrâneo de esgoto.
Quando se fala no problema deve-se pensar em dois tipos de impacto: o sanitário e o ambiental. O impacto sanitário envolve os problemas de saúde pública causados pelo esgoto, que propaga doenças quando não é coletado e tratado corretamente. As estatísticas mostram que a qualidade de vida da população está ligada diretamente a boas condições sanitárias. Por muito tempo, as ações públicas e individuais em relação ao esgoto deram prioridade somente ao aspecto sanitário, construindo galerias, mas sem tratamento. A questão ambiental só começou a ser considerada recentemente. Porém, não faz sentido resolver apenas os problemas do esgoto que ameaçam a saúde da população. A saúde do ambiente também deve ser preservada, afinal, se o ambiente se degradar, a qualidade de vida da população cai também.
Vergonha. O fim da linha para o esgoto, tratado ou não, é o ambiente, córrego ou rio ou, então, até mesmo no solo. Quando é lançado no solo, o esgoto vai atingir os lençóis subterrâneos prejudicando as nascentes.
Bairro Ipiranga
No bairro Ipiranga, nas proximidades do ginásio Ivanildo Gasoni há vazamento de esgoto doméstico na rua. Uma valeta foi aberta no local, agravando ainda mais o problema.
Poucos metros, do outro lado da rua, um morador afirmou que nos dias de chuva um bueiro (boca-de-lobo) trasborda, misturando-se a água e espelhando os dejetos por toda a rua.
Pedreira
No bairro Jardim Primavera, principalmente na Pedreira, praticamente todo o esgoto provindo do município é despejado em meio a casas. Crianças brincam nas proximidades, sem saber dos malefícios que o local pode trazer.
O cheiro no local é muito forte e a chuva agrava a situação dos moradores. “Não da para aguentar o cheiro, moramos praticamente três metros do esgoto, atrás fica o quarto, o cheiro é bem pior. Quando chove parece que vai encher. Tudo vem pra cá. A minha filha já pegou doenças por andar por ali”, diz Luciana Somavila Lopes, mãe de três crianças.
Viaduto
Os habitantes das proximidades do viaduto sofrem dos mesmos problemas. Uma moradora que preferiu não se identificar, comentou que além do cheiro forte, principalmente nos dias de chuva, há muitos mosquitos no local. Ainda tem de ficar de olho na filha mais nova, para que ela não vá até o córrego.
Outra reclamação da moradora diz respeito ao barulho constante da água do esgoto, que corre atrás da casa. O barulho favorece os ladrões. Ela diz que o marido teve que instalar uma luz no porão para evitar que se escondam.
A natureza
Onde vai parar a água que nasce no lajeado Pardo? As três estações de tratamento técnico de esgoto doméstico de Frederico Westphalen se localizam no bairro Fátima, Núcleo Cinco e São Francisco de Paula. Há cerca de seis meses, a Corsan é responsável pelo tratamento de esgoto através de um sistema subterrâneo. “O tratamento é importante para a preservação da qualidade de recursos hídricos naturais, ainda é indispensável para a saúde humana”, coloca Alcides Felipe Canola, licenciador ambiental de Frederico Westphalen.
A reportagem do JF foi até o encontro de dois afluentes provindos de nascentes dos bairros Ipiranga e Santo Inácio que formam o rio Chiquinha, seguindo o viaduto em direção a linha Ponte Preta. Ficou provado que o destino de grande parte da água que nasce no lajeado Pardo, acaba retornando a natureza em forma de esgoto, ajudando a agravar ainda mais os problemas ambientais. Parte desta água poluída retorna aos lençóis subterrâneos, que devido à falta de um filtro natural adequado, por consequência da degradação da matas ciliares, acaba por ficar poluído. O planeta pede socorro.

No viaduto, o esgoto sai das galerias e caí atrás das casas. Além do forte cheiro e das moscas que são atraídas por ele, a moradora que segura a filha nos braços diz que o barulho constante da água favorece os delinqüentes que por lá passam após cometerem delitos. A solução seria alongar a tubulação para que o despejo do esgoto aconteça onde não há residências. Cerca de 100 metros abaixo

Nas proximidades do ginásio Ivanildo Gasoni, o bueiro não suporta a quantidade de esgoto da região. Nos dias de chuva, acaba por transbordar pela rua, causando transtorno aos moradores

Na Pedreira a situação é preocupante, tanto quanto a do viaduto. O esgoto cai entre as casas e uma criança já adoeceu devido ao problema

A cerca de 1000 metros abaixo da ponte do viaduto, acontece o encontro de afluentes da cidade de Frederico Westphalen. A junção forma o rio Chiquinha que segue o seu destino poluído pelo despejo de esgoto doméstico. Este é o destino da água que já nasce poluída no lajeado Pardo

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