terça-feira, 15 de setembro de 2009

Lastimável. A nascente pede socorro


Deposição clandestina de lixo, escoamento de fertilizantes químicos e orgânicos, desmatamento para cultivo agrícola e criação de animais são alguns dos fatores que estão encurtando a vida do lajeado

Lamentável! Assim é a situação da nascente do lajeado Pardo, localizado no distrito de Osvaldo Cruz, responsável por grande parte do abastecimento de água no município de Frederico Westphalen. A falta de vegetação nos arredores da nascente, devido ao desmatamento desordenado da mata ciliar, faz com que boa parte da água proveniente das chuvas escoe para dentro do lajeado, levando consigo impurezas provenientes dos cultivos agrícolas dos arredores.
No local é constatada em média, uma precipitação de 2.100 mm por ano. Em análises realizadas pelo Centro de Educação Superior Norte – RS (Cesnors) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), por meio do departamento de pesquisas de Engenharia Florestal e Agronomia, no mês de abril foi observada uma absorção de precipitação em torno de 22 mm por hora, sendo que o solo deveria absorver em média 120 mm. Consequentemente, houve escorrimento superficial das águas da bacia.
Em junho, foi realizada a primeira observação in loco no leito do lajeado do Pardo. “Observou-se a presença de contaminantes, além de pontos de deposição clandestina de lixo”, informou Angela Maria Mendonça, acadêmica de Engenharia Florestal da UFSM que realiza o projeto pela FIPE, orientada pelo Dr. Genesio Mario da Rosa, coordenador, Dr. Arci Dirceu Wastowski, Dr. Renato Beppler Spohr e Dra. Eliane Pereira dos Santos. Juntamente com cinco colegas e os professores, a estudante ainda participa do projeto de lisímitros – caixas de 1metro quadrado, colocadas ao solo para a simulação de plantações nos entornos das nascentes. Os estudos permitirão, no futuro, quais as quantidades de insumos que os agricultores poderão pôr nas lavouras sem prejuízos a nascente.

A nascente
O entorno da nascente está totalmente desmatado, pois nesta área o uso intenso do solo para atividades agrícolas, com culturas de inverno (trigo e aveia) e de verão (milho, soja e fumo) fez com que a mata praticamente desaparecesse.
Devido a localizar-se em um talvegue e próximo ao divisor de águas, fisicamente delimitado pela BR 386, as águas do escorrimento superficial oriundas das precipitações sobre a área convergem para dentro do leito da nascente e do leito do lajeado, originando, o carreamento de solo por escorrimento superficial, causando erosão e consequentemente carregando os elementos químicos nele contido, como os resíduos de produtos químicos utilizados nas lavouras.
O descaso e a falta de conscientização provocam a deposição de restos de construção e entulho ao longo do leito do lajeado. Ainda, existem residências localizadas as margens do lajeado, não respeitando os limites legais para a construção de habitações em área de preservação permanente.
Pode-se perceber que nos locais onde ainda existe mata ciliar, essa está totalmente degrada, restando apenas árvores de pequeno porte e arbustos, sendo visível o assoreamento do leito do lajeado. “Esse aspecto influi diretamente na redução da infiltração da água no solo e consequentemente aumento no escorrimento superficial, propiciando o aporte de grande quantidade de água de precipitação pluvial em direção ao lajeado, em curto espaço de tempo, resultando no avanço da água para além das margens, agravando a degradação do leito natural do lajeado e seu consequente assoreamento”, comenta Angela.

Na Corsan
A água proveniente do lajeado Pardo percorre cerca de cinco quilômetros por tubulações até a central de tratamento, localizada na avenida São Paulo no bairro Itapagé. Aproximadamente, chegam até a Corsan 110 litros de água por segundo que recebem a primeira dosagem de cloro e sulfato de alumínio, este que é responsável por fazer a separação da sujeira.
Logo após, segue para o flocurador, onde permanecem por uma hora. É nesse momento que os flocos de impurezas começam a se dissolver da água devido a aplicação do sulfato de alumínio. Depois deste processo, a água passa para o decantador. São dois tanques de 800 metros com cinco metros de profundidade, chegando então aos filtros. “Os filtros são o pulmão da estação, pois é aqui que todas as impurezas são eliminadas”, comenta Vanderlei Cadore (Candinho), que é funcionário da Corsan há 17 anos. Segundo informa Candinho, a limpeza dos filtros é feita diariamente.
A Companhia Riograndense de Saneamento (Consan) conta com laboratórios internos na estação, onde são feitas análises de hora em hora da água e ainda, periodicamente amostras são enviadas até o laboratório central em Porto Alegre.
Após sair dos filtros de tratamento, a água recebe a última dosagem de cloro e ainda uma de flúor. Somente depois disso ela vai para os reservatórios. A Corsan tem capacidade de armazenar 1 milhão e 800 mil litros de água, dividida em quatro cisternas, uma podendo conter 1 milhão de litros. Diariamente, a central de tratamento de Frederico Westphalen recebe sete mil metros cúbicos de água.
Nitrogênio
Os estudos realizados pela universidade ainda não estão prontos. Contudo, em fevereiro foram colhidas amostras de duas residências de Frederico Westphalen, nos bairros Fátima e São Francisco de Paula. A análise foi feita no Laboratório de Pesquisas e Análises Químicas -LAPAQ – Cesnors. “A partir das nossas análises preliminares, há suspeitas que a água consumida pela população frederiquense contenha nitrogênio total (nitrato, nitrito, amônia), sendo que é de quantidade um pouco superior ao permitido pelo Conama”, explica Ângela.
“Iniciamos as análises a cerca de um ano e meio, coletamos in loco a água do lajeado do Pardo desde a sua nascente até o seu encontro com o lajeado Tunas. A cada 500 metros é coletada a água e levada até o nosso laboratório na universidade”, finaliza Ângela.

Nota
Mas, e agora, para onde esta água vai? Na próxima edição do Jornal Frederiquense publicaremos a sequência desta especial. Vamos descobrir qual é o fim da água que nasce no lajeado Pardo.

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